Cultura

Aberto ao público, Café do Teatro Guaíra está cheio de referências históricas

As portas do café do Centro Cultural Teatro Guaíra estão abertas para receber o público que frequenta o espaço cultural ou circula rotineiramente pela região central de Curitiba. O novo café ocupa parte do Salão de Exposições, ao lado da bilheteria, com horário de atendimento de segunda a sexta, das 9h às 18h, e aos sábado, das 9h às17h.

A revitalização desse local é fruto de um pregão eletrônico para permissão de uso oneroso por parte do Serviço Social Autônomo PalcoParaná. A vencedora foi a empresa Merenda Mais de São José Alimentos, que poderá utilizar esse espaço por dez anos. Ela pode explorar, ainda, o espaço da Bomboniere, no primeiro andar, em dias de eventos culturais no teatro.

O café tem uma relação umbilical com a cultura e a arquitetura do famoso Guaíra. O objetivo é ampliar o leque de oportunidades para turistas que desejam conhecer o local e aproximar as manifestações culturais dos palcos da rotina agitada de uma metrópole.

Foram cinco meses de obras para juntar referências sobre a origem do teatro e as memórias do Paraná, e agora o café já colhe bom movimento no primeiro mês de abertura.

“A ideia do café do teatro era um sonho, então a nossa missão não era simplesmente projetar uma cafeteria tradicional”, frisa a arquiteta Desireé Copinski Ribeiro, responsável pelo projeto. “Na área de atendimento, ao fundo, temos uma releitura das fachadas do Theatro São Theodoro, onde tudo começou, e a primeira fachada do Theatro Guayrá”.

“Também utilizamos as duas fachadas da construção moderna. Na bancada de atendimento mais próxima ao público do café temos a forma do inconfundível arco da fachada do prédio atual. Outros elementos são a cor e o tecido das cortinas e o tablado para uma área de shows acústicos”, exemplifica Desireé. “É o novo que acolhe, abraça e não esquece, mas se integra. Essa foi a ideia do café”.

E toda essa inspiração também está presenta na cozinha. A jovem chef do Café Guairão, Milena Nagib Majzoub, atuou por cinco anos no restaurante de culinária da família e é professora de culinária árabe em uma faculdade local. Para o café do Teatro Guaíra, o cardápio ganhou novas inspirações. A estrela, segundo ela, é a coxa creme. As opções ainda incluem bolos, tortas, pratos quentes, tostados, além de cafés especiais.

“Quisemos trazer opções desde o café da manhã, com ovos mexidos e iogurte com frutas, até massas e saladas para o almoço, que recebem nomes de artistas, e as sobremesas”, detalha Milena.

BOA RECEPCÇÃO – O Governo do Paraná publicou em 2022 o edital para licitar a permissão de uso do espaço. O processo licitatório foi definido pela menor proposta de mensalidade do aluguel. A ideia é justamente transformar um espaço que estava ocioso em um local que gera arrecadação e ao mesmo tempo renova o visual do Guaíra. Apenas neste ano o Guairão já recebeu nomes como Zé Ramalho, João Bosco, Frejat e Paralamas do Sucesso, além de novas composições da Orquestra Sinfônica do Paraná  e apresentações do Balé Teatro Guaíra.

E o resultado está dando certo. “As cores escolhidas para o espaço me fazem sentir dentro de um espetáculo”, define o carioca Mário Luna, frequentador do café.

As memórias afetivas com a cultura também estão na vida de Mayta Lobo, que já se apresentou dançando e lembra de peças e shows emocionantes no Teatro. “Agora eu trabalho aqui na frente. Quando descobri que abriu o café, a minha expectativa era por um lugar aconchegante e encontrei exatamente o ambiente do meu imaginário”, complementa.

Isabella Traub e Eduardo Sucre também aprovaram a nova opção do centro. “A iluminação é boa, é bem tranquilo para uma conversa”, diz ele. “Tem uma harmonização entre o espaço aconchegante, com clima do teatro, e a comida e o café, que são bem gostosos”, descreve ela.

HISTÓRIA – A arquitetura do Teatro Guaíra é conhecida pelos traços modernistas e a fachada de Poty Lazzarotto, e é um dos principais espaços culturais do Brasil. Mas tudo começou há mais de um século, em 1884, com a inauguração do Theatro São Theodoro, onde hoje está a Biblioteca Pública do Paraná. Por dez anos foi o centro da vida cultural de Curitiba, mas com a chegada da Revolução Federalista ao Paraná, em 1894, as apresentações artísticas foram suspensas e as dependências do teatro transformaram-se em prisão.

Em 1900 o espaço foi reinaugurado com o nome de Theatro Guayrá, novamente com a missão cultural, mas ele durou pouco: em 1939 foi demolido. Naquele tempo os intelectuais da cidade começaram uma campanha pela construção de um novo “teatro oficial”. O projeto de Rubens Meister, um dos idealizadores do curso de Arquitetura da UFPR, foi escolhido no final dos anos 40. Nessa década, o Paraná experimentava o apogeu da economia do mate e o início da expansão do café, o que mexia com a vida noturna.

A construção foi iniciada em 1952 e em 1954 foi inaugurado o primeiro de três auditórios que compõem o edifício: o Salvador de Ferrante, o Guairinha, onde, em 1955, já acontecem as primeiras apresentações. O Bento Munhoz da Rocha Netto, também conhecido como Guairão, cuja inauguração estava prevista para 1971, foi aberto em dezembro de 1974. Em 1975 foi inaugurado o último auditório, Glauco Flores de Sá Brito, o Miniauditório.

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